terça-feira, 23 de setembro de 2014


ESTRESSE NA INFÂNCIA

Atualmente o stress tem atingido não só os adultos como também as crianças e os adolescentes. Chama-se stress a uma reação do organismo frente a situações que amedrontam, confundem, excitam, ou até que as deixam muito feliz. Ele pode se revelar através de sintomas físicos ou psicológicos (Lipp, 1991).
Os sintomas físicos mais frequentes de stress infantil são: dor de barriga e cabeça, diarréia, tique nervoso, náusea, hiperatividade, enurese noturna (xixi na cama), gagueira, tensão muscular, ranger de dentes, falta de apetite, mãos frias e suadas.
Os sintomas psicológicos são: terror noturno, introversão súbita, medo ou choro excessivo, agressividade, impaciência, pesadelos, ansiedade, depressão, mudanças contates de humor, dificuldades de se relacionar, desobediência, insegurança, dificuldades escolares, etc. (Tricoli & Bignoto, 2000).
As fontes geradoras de stress podem ser externas e internas. As fontes externas são situações que acontecem no dia a dia da criança ou do adolescente e que excedem sua capacidade de adaptação (morte na família, brigas constantes entre os pais, separação de pais, mudança de cidade ou escola, professores inadequados, atividades em excesso, e etc.). Já as fontes internas estão relacionadas às características de personalidade, cognições (pensamentos) e atitudes da criança em relação a diferentes situações que ela precisa enfrentar no dia a dia (timidez, ansiedade, medo, auto-estima) (Lipp, 1991; Tricoli & Bignoto, 2000).
É importante lembrar-se que nenhum sintoma isolado deve ser interpretado como sinal de stress. Vale verificar se vários sintomas estão acontecendo juntos.
Quando o stress não é tratado, ele se prolonga podendo levar a origem de doenças e dificuldade de adaptação, inclusive na área escolar. A criança ou o adolescente que não aprende a lidar com o conflito quase sempre se transforma num adulto vulnerável ao stress. Logo, é imprescindível que a criança ou o adolescente aprenda a lidar com os problemas o quanto antes. Comumente, os pais não conseguem perceber que/quando o filho está estressado. Assim, a criança que não consegue expor de forma clara o que está sentindo, passa a ser vista como malcriada ou birrenta, sendo que, a mesma, na verdade está sofrendo a ação do stress excessivo (Lipp, 2000).
Para a prevenção do stress na infância é importante que os pais cuidem de seu próprio stress, pois servem como modelos para seus filhos, não poupem a criança em excesso. Quando a mesma é muito protegida não desenvolve imunidade ao stress. Não substituam presença e carinho por presentes, disciplinem de forma clara e sistemática, tentem identificar a fonte geradora de stress do filho. Se possível, diminua a pressão que ele está sofrendo com muitas atividades e obrigações que vão além do seu limite, o stress deve ser proporcional ao seu amadurecimento e a sua idade, etc (Lipp 1991,2000; Tricoli & Bignoto ,2000).
A criança quando se desenvolve sem fontes internas de stress, ela tem muito mais oportunidade de vir a ser um adulto adaptado e feliz, enquanto a criança estressada será talvez um adulto fragilizado, vítima em potencial do stress diário. (LIPP, 2000).
Caso os pais percebam os sintomas de stress no seu filho, é imprescindível a busca por um psicólogo, para que a criança receba um tratamento adequado que envolve um trabalho em conjunto com a família, principalmente os pais ou responsáveis, com a escola e com a criança. Isso irá possibilitar melhor manejo do estresse, identificação das causas, além de estimular na criança a autoconfiança, conhecimento de suas habilidades, a aceitar seus limites, irá aprender exercícios de relaxamento e de respiração para ajudá-la quando se sentir ansiosa/estressada, dentre outros (Lipp, 1991). 
Com a aprendizagem das técnicas na terapia a mesma terá a oportunidade de saber lidar com futuros episódios de stress, aprenderá a manejar a sua raiva que, consequentemente melhorará o seu relacionamento interpessoal, irá reconhecer pensamentos que a deixa preocupada, com raiva, além de ter um melhor aproveitamento acadêmico tornando-se, assim, um adulto mais resiliente e feliz.
 

LIPP, Marilda E. N. (ORG). O stress está dentro de você. 2ª Ed. São Paulo, Contexto, 2000.
TRICOLI, V. A. C., & BIGNOTO, M. M. Aprendendo a se estressar na infância. Em:LIPP, Marilda E. N. (ORG). O stress está dentro de você. 2ª Ed. São Paulo, Contexto, 2000.
LIPP, Marilda E. N. Como enfrentar o Stress Infantil. São Paulo: Ed. Ícone, 1991.

LIPP, Marilda E. N. Crianças estressadas: causas, sintomas e soluções. Papirus, 2000.

sábado, 14 de abril de 2012

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS (Cognitive Behavioral Therapy in Children)

Author - Ari Pedro Balieiro Junior, aripedro@francanet.com.br
Psicólogo e psicoterapeuta (PUCCamp)
Mestre em Lingüística (Unicamp)

A utilização da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) com crianças vem crescendo, a despeito dos inúmeros mitos que ainda sobrevivem, sobretudo no Brasil, a respeito desta abordagem.
Muitos terapeutas ainda acreditam no mito de que a TCC seria uma abordagem limitada, formada por um conjunto de técnicas estereotipadas, rígidas e pré-definidas, a serem aplicadas mecanicamente, sem levar em conta as características individuais de cada cliente, como seu nível de desenvolvimento e seu contexto ambiental.
Outro mito diz que a TCC seria impossível de utilizar com crianças, porque exigiria habilidades de
raciocínio lógico fora do alcance da capacidade do estágio de desenvolvimento das crianças.
Nenhum destes mitos, no entanto, resiste a uma análise simples, seja da estrutura da TCC, seja das
condições características da psicoterapia com crianças.

A ESTRUTURA DA TCC
Tendo sido desenvolvida a partir dos princípios da aprendizagem e da ciência cognitiva, descobertos
através de experimentos e formulações teóricas rigorosas, a TCC propõe que os problemas emocionais e comportamentais surgem como conseqüência de “um modo distorcido ou disfuncional de perceber os acontecimentos, influenciando o afeto e o comportamento” (Falcone, 2001: 50).
Para ajudar seu cliente com a TCC, o terapeuta busca entender como interagem, na vida daquele cliente em particular, três fatores: o comportamento (o que a pessoa faz e como ela o faz), as cognições (o que a pessoa pensa e sente, e como ela pensa e sente), e as condições ambientais (como se estrutura e organiza o ambiente no qual a pessoa vive).
À medida que compreende como estes três fatores interagem, o terapeuta elabora um plano de
intervenção para modificar ou corrigir a distorção ou disfuncionalidade que produz o sofrimento.
Vê-se assim que, ao contrário de estereotipada, rígida e pré-definida, a TCC é um procedimento que exige alta flexibilidade e criatividade por parte do terapeuta, que deve adaptar e ajustar seu plano de trabalho às condições específicas de cada cliente, como se fosse um alfaiate, que corta a roupa para ajustá-la às medidas do cliente.

A PSICOTERAPIA COM CRIANÇAS
A psicoterapia com crianças tem em comum com a psicoterapia com adultos os objetivos: propiciar,
ensinar ou desenvolver, no cliente, habilidades e competências que lhe permitam não apenas obter o
alívio do sofrimento como a retomada da normalidade da vida saudável.
Diferentemente da psicoterapia com adultos, no entanto, a psicoterapia com crianças, normalmente,
implica dois tipos distintos, embora interdependentes, de atuação do terapeuta: a intervenção realizada
diretamente com a criança e a intervenção realizada com os pais, ou com a família.
Quando trabalha ou dialoga com os pais, ou com a família, que é geralmente um diálogo entre adultos, o terapeuta, embora também deva se adaptar ao nível cultural e à linguagem própria de cada família, pode atuar de forma mais diretiva e pedagógica.
Quando trabalha diretamente com a criança, no entanto, o terapeuta precisa levar em conta que, estando ainda em formação, ela apresenta maneiras próprias de pensamento, sentimento e comportamento, que, geralmente configuram um “mundo de fantasia”, expresso nos jogos e atividades lúdicas em que a criança se engaja.
Se o terapeuta praticando a TCC, como vimos, deve adaptar seus procedimentos a cada um de seus
clientes em particular, na prática direta com a criança o terapeuta considera o estágio específico de
desenvolvimento em que ela se encontra, descobrindo e utilizando sua linguagem própria, entrando em
seu “mundo de fantasia”.
Em outras palavras, o terapeuta praticando a TCC no contato direto com crianças (aliás como acontece em praticamente todas as abordagens), trabalha “indiretamente”, através de metáforas e jogos, ajustando cada um deles ao objetivo escolhido para cada etapa do plano de tratamento.
Este artigo pretende mostrar como a TCC utiliza técnicas, atividades e procedimentos lúdicos e
metafóricos que podem ser empregados com crianças de qualquer idade, e, bem utilizados, podem tornar a psicoterapia um processo divertido e estimulante.
Para ilustrar estas possibilidades, descreveremos algumas técnicas ou atividades que podem ser usadas
para desenvolver as habilidades de auto-observação (ou auto-monitoramento), de solução de problemas e de auto-instrução ou autocontrole.

CONCLUSÃO
A Terapia Cognitivo Comportamental, ao contrário do que é veiculado em muitos mitos, é uma experiência bastante rica e variada, exigindo do seu praticante uma atitude permanente de criatividade e atenção para as condições específicas de seu cliente a cada momento.
É preciso ressaltar que as exigências de planejamento, definição de objetivos e avaliação constantes e
permanentes não são uma “camisa de força” para o terapeuta, mas antes uma forma rigorosa e
experimentalmente testada de garantir a qualidade do trabalho... se este rigor for combinado com a
flexibilidade e criatividade que propusemos, a TCC mostrar-se-á uma experiência rica e profundamente estimulante intelectualmente, tanto para o terapeuta quanto para o cliente, criança ou não.

BIBLIOGRAFIA - para saber mais – em português Sobre TCC com crianças.
SOUZA, Conceição Reis & BAPTISTA, Cristiana Pereira (2001) Terapia cognitivo-comportamental com crianças. In: RANGÉ (2001).
Sobre TCC em geral
FALCONE, Eliane (2001) Psicoterapia cognitiva. In: RANGÉ (2001).
RANGÉ, Bernard (org.) (2001) Psicoterapias cognitivo-comportamentais – um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2001.
BECK, Judith S. (1995) Terapia Cognitiva – Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, Aaron T. & ALFORD, Brad, A. (1997) O Poder integrador da Terapia cognitiva.
"Uma situação não determina como nos sentimos, mas sim a maneira como a construímos." 

Aaron Beck.