sábado, 14 de abril de 2012

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS (Cognitive Behavioral Therapy in Children)

Author - Ari Pedro Balieiro Junior, aripedro@francanet.com.br
Psicólogo e psicoterapeuta (PUCCamp)
Mestre em Lingüística (Unicamp)

A utilização da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) com crianças vem crescendo, a despeito dos inúmeros mitos que ainda sobrevivem, sobretudo no Brasil, a respeito desta abordagem.
Muitos terapeutas ainda acreditam no mito de que a TCC seria uma abordagem limitada, formada por um conjunto de técnicas estereotipadas, rígidas e pré-definidas, a serem aplicadas mecanicamente, sem levar em conta as características individuais de cada cliente, como seu nível de desenvolvimento e seu contexto ambiental.
Outro mito diz que a TCC seria impossível de utilizar com crianças, porque exigiria habilidades de
raciocínio lógico fora do alcance da capacidade do estágio de desenvolvimento das crianças.
Nenhum destes mitos, no entanto, resiste a uma análise simples, seja da estrutura da TCC, seja das
condições características da psicoterapia com crianças.

A ESTRUTURA DA TCC
Tendo sido desenvolvida a partir dos princípios da aprendizagem e da ciência cognitiva, descobertos
através de experimentos e formulações teóricas rigorosas, a TCC propõe que os problemas emocionais e comportamentais surgem como conseqüência de “um modo distorcido ou disfuncional de perceber os acontecimentos, influenciando o afeto e o comportamento” (Falcone, 2001: 50).
Para ajudar seu cliente com a TCC, o terapeuta busca entender como interagem, na vida daquele cliente em particular, três fatores: o comportamento (o que a pessoa faz e como ela o faz), as cognições (o que a pessoa pensa e sente, e como ela pensa e sente), e as condições ambientais (como se estrutura e organiza o ambiente no qual a pessoa vive).
À medida que compreende como estes três fatores interagem, o terapeuta elabora um plano de
intervenção para modificar ou corrigir a distorção ou disfuncionalidade que produz o sofrimento.
Vê-se assim que, ao contrário de estereotipada, rígida e pré-definida, a TCC é um procedimento que exige alta flexibilidade e criatividade por parte do terapeuta, que deve adaptar e ajustar seu plano de trabalho às condições específicas de cada cliente, como se fosse um alfaiate, que corta a roupa para ajustá-la às medidas do cliente.

A PSICOTERAPIA COM CRIANÇAS
A psicoterapia com crianças tem em comum com a psicoterapia com adultos os objetivos: propiciar,
ensinar ou desenvolver, no cliente, habilidades e competências que lhe permitam não apenas obter o
alívio do sofrimento como a retomada da normalidade da vida saudável.
Diferentemente da psicoterapia com adultos, no entanto, a psicoterapia com crianças, normalmente,
implica dois tipos distintos, embora interdependentes, de atuação do terapeuta: a intervenção realizada
diretamente com a criança e a intervenção realizada com os pais, ou com a família.
Quando trabalha ou dialoga com os pais, ou com a família, que é geralmente um diálogo entre adultos, o terapeuta, embora também deva se adaptar ao nível cultural e à linguagem própria de cada família, pode atuar de forma mais diretiva e pedagógica.
Quando trabalha diretamente com a criança, no entanto, o terapeuta precisa levar em conta que, estando ainda em formação, ela apresenta maneiras próprias de pensamento, sentimento e comportamento, que, geralmente configuram um “mundo de fantasia”, expresso nos jogos e atividades lúdicas em que a criança se engaja.
Se o terapeuta praticando a TCC, como vimos, deve adaptar seus procedimentos a cada um de seus
clientes em particular, na prática direta com a criança o terapeuta considera o estágio específico de
desenvolvimento em que ela se encontra, descobrindo e utilizando sua linguagem própria, entrando em
seu “mundo de fantasia”.
Em outras palavras, o terapeuta praticando a TCC no contato direto com crianças (aliás como acontece em praticamente todas as abordagens), trabalha “indiretamente”, através de metáforas e jogos, ajustando cada um deles ao objetivo escolhido para cada etapa do plano de tratamento.
Este artigo pretende mostrar como a TCC utiliza técnicas, atividades e procedimentos lúdicos e
metafóricos que podem ser empregados com crianças de qualquer idade, e, bem utilizados, podem tornar a psicoterapia um processo divertido e estimulante.
Para ilustrar estas possibilidades, descreveremos algumas técnicas ou atividades que podem ser usadas
para desenvolver as habilidades de auto-observação (ou auto-monitoramento), de solução de problemas e de auto-instrução ou autocontrole.

CONCLUSÃO
A Terapia Cognitivo Comportamental, ao contrário do que é veiculado em muitos mitos, é uma experiência bastante rica e variada, exigindo do seu praticante uma atitude permanente de criatividade e atenção para as condições específicas de seu cliente a cada momento.
É preciso ressaltar que as exigências de planejamento, definição de objetivos e avaliação constantes e
permanentes não são uma “camisa de força” para o terapeuta, mas antes uma forma rigorosa e
experimentalmente testada de garantir a qualidade do trabalho... se este rigor for combinado com a
flexibilidade e criatividade que propusemos, a TCC mostrar-se-á uma experiência rica e profundamente estimulante intelectualmente, tanto para o terapeuta quanto para o cliente, criança ou não.

BIBLIOGRAFIA - para saber mais – em português Sobre TCC com crianças.
SOUZA, Conceição Reis & BAPTISTA, Cristiana Pereira (2001) Terapia cognitivo-comportamental com crianças. In: RANGÉ (2001).
Sobre TCC em geral
FALCONE, Eliane (2001) Psicoterapia cognitiva. In: RANGÉ (2001).
RANGÉ, Bernard (org.) (2001) Psicoterapias cognitivo-comportamentais – um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2001.
BECK, Judith S. (1995) Terapia Cognitiva – Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
BECK, Aaron T. & ALFORD, Brad, A. (1997) O Poder integrador da Terapia cognitiva.
"Uma situação não determina como nos sentimos, mas sim a maneira como a construímos." 

Aaron Beck.